segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Os famosos só morrem no final do ano

Não adianta, todo ano é igual. A partir de novembro, é uma sucessão de mortes que parece não ter fim.

Há anos constato esse fato: morrem mais pessoas famosas no final do ano do que nos outros dez meses. A impressão que dá é a de que essas pessoas não aguentam a tensão e o desgaste do final de ano e resolvem fugir dos problemas morrendo. Onde passar o Reveillon? Infarto. Natal na casa de quem? Câncer. Especial de fim de ano? Acidente de carro. E por aí vai.

Claro que ao longo do ano sempre morre gente, mas os do final de ano capricham. São sempre mortes inesperadas, dramáticas e surpreendentes. Quem imaginaria que Sócrates, que esteve à beira da morte, iria morrer em consequência de uma salmonela sem vergonha de um restaurante caro? Ou que o ditador da Coréia do Norte infartaria a duas semanas do final de ano? Talvez você esperasse que o Joãozinho (sem esse "s" aviadado no meio do nome) Trinta finalmente seria derrubado pela isquemia e problemas de anos a fio? Duvido! O homem esteve muito pior antes, não era agora que seria a hora dele.

Mas não. Famosos causam impacto até na morte. Nos surpreendem, nos chocam e nos emocionam. E, claro, todos se transformam em excelentes pessoas após o passamento. O ser humano tem esse condão de encontrar a bondade após o enrijecimento do cadáver, e não antes. Fazer o que?

Só falta agora esperar a tragédia de janeiro, mês conhecido pelas chuvas que todos os anos causam estragos, mas que a cada ano abalam um lugar diferente. Aí, nos plantamos na frente do sofá e acompanhamos com a morbidez que nos define as imagens da destruição, o drama daqueles que perderam tudo e a eterna negligência das autoridades para evitar a tragédia anunciada.

Mas isso é tema para outro momento.

O tempo passa...

O tempo passa e quando percebemos é tarde demais.

No começo era bom. Escrevia muito bem, o texto fluia sem qualquer dificuldade. Não precisava de tema nem de incentivo, a vontade de escrever era grande. Lembro-me muito bem que no colégio ainda, na 5ª série, ganhei alguns concursos da sala com as minhas redações.

Mas o tempo passou. Aquela inocência da infância foi dando espaço ao amargor e sofrimento da adolescência, os estudos tomaram conta e o curso de Direito bateu o último prego no caixão. Nunca vi um curso tão nocivo para a literatura, para o escrever livre e desimpedido! Hoje escrever é uma luta, seja pela briga com o tempo e disposição, seja  pelos inúmeros questionamentos jurídicos que decorrem da escrita. A liberdade desmedida e descompromissada deu espaço a um texto pesado, medido, medroso, enfim, artificial até onde não pode mais.

A ideia que fica é de que tudo é repetição. Não há nada inédito, tudo aparenta ser uma mera colagem de temas, ideias e linhas de raciocínio. Tudo foi escrito, essa é a impressão que fica.

Hoje, ainda consigo escrever alguma coisa. Não possuo mais a leveza da linguagem, o descompromisso da forma e a criatividade de outros tempos. Falta o frescor, o que só acontece com o passar dos anos e as preocupações, decepções e amarguras da vida. Não que eu possa reclamar, pelo contrário. Se olho tudo o que tenho hoje, o que sou, o que construí, só me resta ajoelhar e agradecer muito a Deus pelo que me proporcionou nesta vida. Mas, como diz o ditado, "a grama do vizinho é sempre mais verde"...

Tem hora que a vontade vem forte, e dá um ânimo danado de sentar na frente do computador (e antigamente era manuscrito!) e escrever sem parar. Mas a televisão, o choro do bebê, a fome e a preguiça dominam e a vontade passa, tão rápido quanto a de trabalhar...

Pena que o tempo passa! Talvez ainda exista uma esperança. O blog é para mim uma porta para recuperar o tempo perdido. Pode ser que funcione, desde que eu consiga manter uma frequência razoável de produção. O esforço é grande e a disponibilidade de tempo é pequena, mas acho que dá para arranjar uma saída.

O tempo passa sim, mas não acaba.