Não adianta, todo ano é igual. A partir de novembro, é uma sucessão de mortes que parece não ter fim.
Há anos constato esse fato: morrem mais pessoas famosas no final do ano do que nos outros dez meses. A impressão que dá é a de que essas pessoas não aguentam a tensão e o desgaste do final de ano e resolvem fugir dos problemas morrendo. Onde passar o Reveillon? Infarto. Natal na casa de quem? Câncer. Especial de fim de ano? Acidente de carro. E por aí vai.
Claro que ao longo do ano sempre morre gente, mas os do final de ano capricham. São sempre mortes inesperadas, dramáticas e surpreendentes. Quem imaginaria que Sócrates, que esteve à beira da morte, iria morrer em consequência de uma salmonela sem vergonha de um restaurante caro? Ou que o ditador da Coréia do Norte infartaria a duas semanas do final de ano? Talvez você esperasse que o Joãozinho (sem esse "s" aviadado no meio do nome) Trinta finalmente seria derrubado pela isquemia e problemas de anos a fio? Duvido! O homem esteve muito pior antes, não era agora que seria a hora dele.
Mas não. Famosos causam impacto até na morte. Nos surpreendem, nos chocam e nos emocionam. E, claro, todos se transformam em excelentes pessoas após o passamento. O ser humano tem esse condão de encontrar a bondade após o enrijecimento do cadáver, e não antes. Fazer o que?
Só falta agora esperar a tragédia de janeiro, mês conhecido pelas chuvas que todos os anos causam estragos, mas que a cada ano abalam um lugar diferente. Aí, nos plantamos na frente do sofá e acompanhamos com a morbidez que nos define as imagens da destruição, o drama daqueles que perderam tudo e a eterna negligência das autoridades para evitar a tragédia anunciada.
Mas isso é tema para outro momento.